I said no, no, no.
Amy Winehouse escreveu o melhor verso do ano. Numa das já grandes músicas de 2007, uma autêntica ode à bebedeira pra manter suas mágoas afogadas e seu sorriso torto de pé. Palmas pra ela.
"Didn’t get a lot in class, but I know it don’t come in a shot glass"
Got it, baby?
quinta-feira, abril 12, 2007
domingo, abril 08, 2007
Retrato do artista quando vivo
Só pra fazer um agrado a um grande amigo meu, posto aqui algo que publiquei no Dogmas há mais de 3 anos.
"Se estiver faltando emoção ou sexo (ou os dois, vá saber) no seu cotidiano, agradeçam a Deus e à Sony Music por um disco chamado Grace, de um rapazola chamado Jeff Buckley. Lá pelos idos de 93/94, o jovem deixou registrada a sua música para a imortalidade, e é uma bela música.
Pérolas como Lilac Wine, Dream Brother, Corpus Christi Carol e Eternal Life somadas a uma versão linda de arrancar lágimas de um bloco de cimento de Hallellujah (de Leonard Cohen, a musiquinha que toca antes do casamento do Shrek) e ao prelúdio nupcial Lover, You Shoud’ve Come Over (nota atualizada do autor: essa é a melhor música pra trepar já escrita pelo homem, e estou incluindo aqui o Marvin Gaye) fazem desse disquinho de rock uma excelente trilha sonora para o ato de fazer neném. Ou simplesmente curtir aquela fossa porque o(a) seu(sua) ex te deu o fora e a programação da TV não se importa muito com você.
Buckley gravou apenas esse disco, o que o torna além de belo, triste. Jovem e talentoso, ele foi adotado como sensação musical e queridinho do métier após o lançamento de Grace. Mal comparando, isso que a gente vê com os Hermanos hoje aqui desde Bloco do Eu Sozinho. A merda é que Buckley não soube ou não quis segurar a onda, tomou todas, se engraçou com a Courtney Love e um belo dia resolveu mergulhar no meio de um rio após se intoxicar como um bravo num passeio de barco noturno. Juntou-se a Mick Jones e outros que partiram deste mundo mergulhando em sua própria tragédia."
Só pra fazer um agrado a um grande amigo meu, posto aqui algo que publiquei no Dogmas há mais de 3 anos.
"Se estiver faltando emoção ou sexo (ou os dois, vá saber) no seu cotidiano, agradeçam a Deus e à Sony Music por um disco chamado Grace, de um rapazola chamado Jeff Buckley. Lá pelos idos de 93/94, o jovem deixou registrada a sua música para a imortalidade, e é uma bela música.
Pérolas como Lilac Wine, Dream Brother, Corpus Christi Carol e Eternal Life somadas a uma versão linda de arrancar lágimas de um bloco de cimento de Hallellujah (de Leonard Cohen, a musiquinha que toca antes do casamento do Shrek) e ao prelúdio nupcial Lover, You Shoud’ve Come Over (nota atualizada do autor: essa é a melhor música pra trepar já escrita pelo homem, e estou incluindo aqui o Marvin Gaye) fazem desse disquinho de rock uma excelente trilha sonora para o ato de fazer neném. Ou simplesmente curtir aquela fossa porque o(a) seu(sua) ex te deu o fora e a programação da TV não se importa muito com você.
Buckley gravou apenas esse disco, o que o torna além de belo, triste. Jovem e talentoso, ele foi adotado como sensação musical e queridinho do métier após o lançamento de Grace. Mal comparando, isso que a gente vê com os Hermanos hoje aqui desde Bloco do Eu Sozinho. A merda é que Buckley não soube ou não quis segurar a onda, tomou todas, se engraçou com a Courtney Love e um belo dia resolveu mergulhar no meio de um rio após se intoxicar como um bravo num passeio de barco noturno. Juntou-se a Mick Jones e outros que partiram deste mundo mergulhando em sua própria tragédia."
sábado, abril 07, 2007
Saturday Night Fever
Noites de sábado são as mais solitárias que existem. Não me olhe com pena, assim eu vou usar meu humor ácido pra me defender da sua concessão e talvez você deixe de me ver com os olhos atuais. Vem de longe minha relação mal-resolvida com as noites de sábado, talvez porque venha igualmente de longe minha absoluta falta de talento para sustentar relacionamentos amorosos, seja quem for a mulher da vez. As tardes de sábado já são ruins, porque vésperas, mas as noites costumam ser cruéis, implacáveis, silenciosas.
Quando sozinho, você não tem como correr de si mesmo. De seus vícios, da barriga que sabe que precisa perder, das palavras que sabe que irá precisar dizer, do mundo que sabe que não está dando bola pro fato de que você quer estar noutro lugar. Não haverá outro lugar a não ser que você dê o passo inicial, você sabe, todos sabem.
A minha vantagem, e é uma grande vantagem, é estar sozinho numa cidade estrangeira. Se eu estiver sozinho, então não haverá ninguém mesmo, nem dentro daqui de casa. Eu deixo as maravilhosas Soul Sessions de Joss Stone no repeat do toca CDs do quarto aqui atrás e venho pra sala digitar minha solidão sem culpas, não há ninguém que minha solidão mantenha acordado além de mim. Luzes apagadas porque o monitor basta e meus dedos já estão razoavelmente familirizados com a disposição do alfabeto em teclados.
Sem a música, as bebidas, as garotas passageiras, os amigos, as ruas, sobra um homem de shorts e o isqueiro que ele esqueceu na janela após o último da noite e veio a lembrança de outras noites com aquelas músicas, quando as noites não eram tão solitárias e definitivamente bem mais aeróbicas. Ela gostava de Bukowski e da Mafalda e de pão com ovo. Subitamente, eu sinto vontade de parar tudo aqui e me fritar um ovo pra pôr dentro de um pão, o que farei em algumas horas, quando voltar à sala pra acompanhar a fórmula-1 na Ásia em seus horários à prova de audiência.
Entre duas noites de sábado encontrei e perdi um possível grande amor. Não faz muito tempo e não está sendo fácil voltar a estar sozinho desse jeito, com a consciência de que há alguém no mundo que poderia estar agora ralhando que não estou na cama ou simplesmente no meu colo pra me fazer companhia enquanto resmungo. Eu sou um idiota completo diante de qualquer mulher bonita, vocês devem ter percebido, sempre acho que vale a pena me apaixonar por elas e que elas verão algo em mim (mesmo antes do meu sem modéstia alguma elogiado cunnilingus) e que as demais noites de sábado serão de alegria, confissões, planos e, como não, muita sacanagem. É da minha natureza.
Talvez a solidão das noites de sábado também seja parte integrante de mim. Eu sou incurável.
Noites de sábado são as mais solitárias que existem. Não me olhe com pena, assim eu vou usar meu humor ácido pra me defender da sua concessão e talvez você deixe de me ver com os olhos atuais. Vem de longe minha relação mal-resolvida com as noites de sábado, talvez porque venha igualmente de longe minha absoluta falta de talento para sustentar relacionamentos amorosos, seja quem for a mulher da vez. As tardes de sábado já são ruins, porque vésperas, mas as noites costumam ser cruéis, implacáveis, silenciosas.
Quando sozinho, você não tem como correr de si mesmo. De seus vícios, da barriga que sabe que precisa perder, das palavras que sabe que irá precisar dizer, do mundo que sabe que não está dando bola pro fato de que você quer estar noutro lugar. Não haverá outro lugar a não ser que você dê o passo inicial, você sabe, todos sabem.
A minha vantagem, e é uma grande vantagem, é estar sozinho numa cidade estrangeira. Se eu estiver sozinho, então não haverá ninguém mesmo, nem dentro daqui de casa. Eu deixo as maravilhosas Soul Sessions de Joss Stone no repeat do toca CDs do quarto aqui atrás e venho pra sala digitar minha solidão sem culpas, não há ninguém que minha solidão mantenha acordado além de mim. Luzes apagadas porque o monitor basta e meus dedos já estão razoavelmente familirizados com a disposição do alfabeto em teclados.
Sem a música, as bebidas, as garotas passageiras, os amigos, as ruas, sobra um homem de shorts e o isqueiro que ele esqueceu na janela após o último da noite e veio a lembrança de outras noites com aquelas músicas, quando as noites não eram tão solitárias e definitivamente bem mais aeróbicas. Ela gostava de Bukowski e da Mafalda e de pão com ovo. Subitamente, eu sinto vontade de parar tudo aqui e me fritar um ovo pra pôr dentro de um pão, o que farei em algumas horas, quando voltar à sala pra acompanhar a fórmula-1 na Ásia em seus horários à prova de audiência.
Entre duas noites de sábado encontrei e perdi um possível grande amor. Não faz muito tempo e não está sendo fácil voltar a estar sozinho desse jeito, com a consciência de que há alguém no mundo que poderia estar agora ralhando que não estou na cama ou simplesmente no meu colo pra me fazer companhia enquanto resmungo. Eu sou um idiota completo diante de qualquer mulher bonita, vocês devem ter percebido, sempre acho que vale a pena me apaixonar por elas e que elas verão algo em mim (mesmo antes do meu sem modéstia alguma elogiado cunnilingus) e que as demais noites de sábado serão de alegria, confissões, planos e, como não, muita sacanagem. É da minha natureza.
Talvez a solidão das noites de sábado também seja parte integrante de mim. Eu sou incurável.
sexta-feira, março 23, 2007
29
São cinco da manhã e eu queria estar dormindo. Em 96% dos casos em que são cinco da manhã e ainda estou acordado, pode apostar, estou fazendo algo que não deveria. Mas hoje, por coincidência, espero, meu aniversário, me vi na cama acordado com algo me mantendo acordado e não, não era nenhuma ninfeta insaciável ou algo digno de nota - apesar de estar sendo registrado aqui a essas horas. O corpo não relaxava. A panturrilha direita incomoda desde ontem e não faço a menor idéia do que seja, então, suponho que seja velhice mesmo. O sujeito que passa os anos que seguem sua formação acadêmica e os posteriores desafiando os limites de sua resistência biológica e espiritual diante de copos das mais variadas combinações etílicas, gente da mais variada índole e experiências das mais variadas morfologias deve aguardar o dia em que ele, o corpo, puto da vida, irá pedir a desforra.
Diante da impossibilidade de dormir as supostas horas que me dou o direito na sua totalidade, resolvi começar o dia um pouco antes. Escrevendo. Havia tempo que não me sentava aqui ou em qualquer outro lugar e escrevia sem maior compromisso que não esse que tento manter com as palavras, de deixá-las tomar parte neste mundo e num arroubo de arrogância do autor com ingenuidade de suas mãos, tentar fazer este mundo em que gravo minhas palavras um lugar menos ordinário. É o único compromisso que andei assumindo nesses anos de vida - hoje, vinte e nove - que pretendo manter por mais tempo. O resto eu apenas observo e cataliso, através dos dias e noites, das caminhadas solitárias por ruas que não sei o nome, dos anúncios e notícias que me chegam aos sentidos sem que eu peça por eles, das noites que o corpo grita e eu não entendo o que ele pede.
E o tempo, para as palavras, é mais que senhor. É a sua essência. As palavras e seus produtores e receptores só podem ser analisados sob o prisma do tempo que lhes resta. Há gente neste mundo que não possui tempo para ler, para interpretar, para sentir. Há gente com tempo de sobra até para escrever. O tempo é a marca original de nossa existência, é a única filosofia de vida que consigo aceitar. Nós somos aquilo o que o tempo faz de nós. Parece mesmo uma daquelas frases baratas que encontramos em diálogos de filmes americanos, mas os filmes americanos são tão bem feitos e não vejo nada errado em usá-los a meu favor. Talvez tenha sido o tempo que me fez levantar da cama e tentar com palavras acalmar o corpo, que digita sem entender direito e dói sem me explicar o motivo.
Há muita coisa acontecendo no mundo digno de algumas linhas. Ontem mesmo, Lula, que um dia foi acusado em rede nacional de televisão de possuir bens de consumo acima de posses e pedir a uma antiga namorada para abortar um filho que ele não queria ter com ela, resumindo, declarado ladrão e assassino, recebeu seu acusador do passado, Collor, elle mesmo, com sorrisos e fotos para as primeiras páginas em seu gabinete de trabalho. Parece que o congresso ou o senado ianques aprovaram a retirada das tropas democrático-pacificadoras do US Army das terras iraquianas onde, nos últimos 4 anos, lá estiveram levando paz, alegria e colorido aos nativos. O Flamengo voltou a ser um time aguerrido que entra em campo com jogadores de futebol, daqueles que dividem as bolas, correm até seu último fôlego e, eventualmente, até gols a favor se mostram capazes de escorar. Romário, gênio, pode fazer algo que antes só um cara chamado Édson se mostrou capaz - alcançar uma avassaladora marca de mil gols escorados. E contra seu time de coração, o mesmo Flamengo que voltou a ser um pouco Flamengo esses dias, deve ser muita honra e emoção para um sujeito que, tal qual James Brown, ama tanto a si quanto a seu ofício.
Tudo isso veio a mim, e agora a você, por meio de tempo e palavras. Palavras são o mais eficiente registro do nosso tempo e talvez com alguma subconsciência eu tenha abraçado essa idéia mais do que deveria. Talvez por isso tenha dormido mal o último par de dias. A véspera de uma marca do tempo e a ausência de palavras de minha parte. Porque o tempo, ao contrário do que muita gente quer nos fazer pensar com ameaças atômicas, climáticas e quetais, não tem essa de caminhar pra trás. Você, agora, é uma pessoa mais evoluída do que há minutos atrás. O tempo, as palavras e a Joss Stone não estão de bobeira nesse mundo.
São cinco da manhã e eu queria estar dormindo. Em 96% dos casos em que são cinco da manhã e ainda estou acordado, pode apostar, estou fazendo algo que não deveria. Mas hoje, por coincidência, espero, meu aniversário, me vi na cama acordado com algo me mantendo acordado e não, não era nenhuma ninfeta insaciável ou algo digno de nota - apesar de estar sendo registrado aqui a essas horas. O corpo não relaxava. A panturrilha direita incomoda desde ontem e não faço a menor idéia do que seja, então, suponho que seja velhice mesmo. O sujeito que passa os anos que seguem sua formação acadêmica e os posteriores desafiando os limites de sua resistência biológica e espiritual diante de copos das mais variadas combinações etílicas, gente da mais variada índole e experiências das mais variadas morfologias deve aguardar o dia em que ele, o corpo, puto da vida, irá pedir a desforra.
Diante da impossibilidade de dormir as supostas horas que me dou o direito na sua totalidade, resolvi começar o dia um pouco antes. Escrevendo. Havia tempo que não me sentava aqui ou em qualquer outro lugar e escrevia sem maior compromisso que não esse que tento manter com as palavras, de deixá-las tomar parte neste mundo e num arroubo de arrogância do autor com ingenuidade de suas mãos, tentar fazer este mundo em que gravo minhas palavras um lugar menos ordinário. É o único compromisso que andei assumindo nesses anos de vida - hoje, vinte e nove - que pretendo manter por mais tempo. O resto eu apenas observo e cataliso, através dos dias e noites, das caminhadas solitárias por ruas que não sei o nome, dos anúncios e notícias que me chegam aos sentidos sem que eu peça por eles, das noites que o corpo grita e eu não entendo o que ele pede.
E o tempo, para as palavras, é mais que senhor. É a sua essência. As palavras e seus produtores e receptores só podem ser analisados sob o prisma do tempo que lhes resta. Há gente neste mundo que não possui tempo para ler, para interpretar, para sentir. Há gente com tempo de sobra até para escrever. O tempo é a marca original de nossa existência, é a única filosofia de vida que consigo aceitar. Nós somos aquilo o que o tempo faz de nós. Parece mesmo uma daquelas frases baratas que encontramos em diálogos de filmes americanos, mas os filmes americanos são tão bem feitos e não vejo nada errado em usá-los a meu favor. Talvez tenha sido o tempo que me fez levantar da cama e tentar com palavras acalmar o corpo, que digita sem entender direito e dói sem me explicar o motivo.
Há muita coisa acontecendo no mundo digno de algumas linhas. Ontem mesmo, Lula, que um dia foi acusado em rede nacional de televisão de possuir bens de consumo acima de posses e pedir a uma antiga namorada para abortar um filho que ele não queria ter com ela, resumindo, declarado ladrão e assassino, recebeu seu acusador do passado, Collor, elle mesmo, com sorrisos e fotos para as primeiras páginas em seu gabinete de trabalho. Parece que o congresso ou o senado ianques aprovaram a retirada das tropas democrático-pacificadoras do US Army das terras iraquianas onde, nos últimos 4 anos, lá estiveram levando paz, alegria e colorido aos nativos. O Flamengo voltou a ser um time aguerrido que entra em campo com jogadores de futebol, daqueles que dividem as bolas, correm até seu último fôlego e, eventualmente, até gols a favor se mostram capazes de escorar. Romário, gênio, pode fazer algo que antes só um cara chamado Édson se mostrou capaz - alcançar uma avassaladora marca de mil gols escorados. E contra seu time de coração, o mesmo Flamengo que voltou a ser um pouco Flamengo esses dias, deve ser muita honra e emoção para um sujeito que, tal qual James Brown, ama tanto a si quanto a seu ofício.
Tudo isso veio a mim, e agora a você, por meio de tempo e palavras. Palavras são o mais eficiente registro do nosso tempo e talvez com alguma subconsciência eu tenha abraçado essa idéia mais do que deveria. Talvez por isso tenha dormido mal o último par de dias. A véspera de uma marca do tempo e a ausência de palavras de minha parte. Porque o tempo, ao contrário do que muita gente quer nos fazer pensar com ameaças atômicas, climáticas e quetais, não tem essa de caminhar pra trás. Você, agora, é uma pessoa mais evoluída do que há minutos atrás. O tempo, as palavras e a Joss Stone não estão de bobeira nesse mundo.
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Sexo casual com portadores de fimose
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Gladiatores! Violentia!

A foto diz muito sobre o estado de coisas que vivemos. Ela é assustadora como o crime bárbaro cometido por dois dos três rapazes descamisados sendo exibidos como animais capturados pela sempre exemplar Polícia Militar do Estado do Rio. Sim, há um terceiro elemento na foto que segundo a reportagem do Estadão "a polícia garante que o rapaz não está envolvido no crime".
É o garoto do meio, "identificado como Tiago". Ele seria da quadrilha, mas não participou do funesto roubo do carro que resultou na morte de um menino de 6 anos que acabou preso pelo cinto de segurança do lado de fora do veículo, na pressa dos assaltantes que arrastaram o garoto por 7 km.
Mas retornemos para a foto. Sua publicação é óbvia, é um registro cru de como enxergamos a questão da violência. A começar pelos próprios policiais que não aparentam o menor resquício de pudor ante as câmeras de respeitar a integridade física dos trio, muito pelo contrário. Nota-se a excitação em todos, o gosto de mostrar a população sua eficiência em deter o crime (e, no entanto, o carro roubado com o corpo do menino não foi incomodado por nenhum deles durante seu trajeto).
A imagem aparece na capa do Estadão e com maior destaque no JT , que pertence ao Grupo Estado. Acusa os três do crime, ainda que a própria reportagem aponte dois como culpados. Cadê a responsabilidade de um editor com a verdade da notícia aí? Por que jogar um terceiro elemento que não tomou parte no crime aos olhos de leitores estarrecidos? Por que nenhuma censura à violência policial na legenda da foto?
Num exercício de reflexão, imagine você uma foto contendo o deputado mensaleiro João Paulo Cunha, ACM, que já teve de renunciar a um mandato no Senado para fugir de tê-lo cassado e a comunista Manuela D'Ávila, deputada federal eleita com o maior número de votos no país. Os três caminham lado a lado sob a legenda "Parlamentares mancham a democracia com acusações de corrupção e fraudes". Entendeu?
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Brasilianas
Saiu em DVD e vídeo "Brasília 18%", volta do cineasta Nelson Pereira dos Santos à ficção após "A Terceira Margem do Rio", curta de 94. O título do filme é alusivo ao clima semi-desértico da capital federal, situada praticamente no coração do continente sul-americano em vegetação de cerrado, num imenso planalto, que faz com que a umidade relativa do ar na cidade baixe a percentagens quase inumanas (daí o 18%) e não sei se guarda alguma relação com seu filme mais badalado, o "Rio 40°", que faz alusão ao tórrido verão da antiga capital federal.
Apesar de usar a cidade como cenário nas tomadas abertas, não é um filme sobre a cidade levantada no meio do país por JK num tempo onde talvez ser nacionalista não era algo cínico. Brasília 18% é um filme sobre o poder, sobre o lado humano do poder e como o poder embrutece, corrompe e deforma o que poderia haver de bom em nós. Nessa toada, mas aí já estou no campo da elucubração, talvez Brasília tenha "dado errado" porque o país deu errado também, e deu errado antes.
Não seria absurdo pensar que a idéia de Brasília como coração do país fosse mais que uma metáfora para JK. As largas avenidas e as grandes distâncias marcam a capital idealizada pelo homem que trouxe a indústria automobilística para o Brasil. A arquitetura de Niemeyer executada nos anos 50 soa moderna hoje, um outro século. No entanto, as grandes decisões do país continuam saindo do eixo Rio-SP, o que caracteriza o fracasso da idéia de transferir para a Nova Capital o coração do país. O país continuou velho, digamos assim.
Nessa cidade de contradições, temos o filme de Nelson e personagens de várias matizes sociais na trama que, com elementos de noir, navega pelo cenário político da capital - onde as decisões políticas do país são efetivamente tomadas. O grande barato do filme é que as personagens, antes de serem mesquinhas ou omissas ou generosas, são demasiadamente humanas. Não há o tom preto no branco que poderia tornar o filme desnecessariamente panfletário, mas várias cores para esboçar um quadro muito mais rico. O andar de trama nos mostra que os descaminhos do poder são muito mais tortuosos do que imaginamos.
Brasília 18% acabou me fazendo lembrar de outro filme sobre os meandros do poder na capital federal, este de Lúcia Murat, feito dez anos antes: "Doces Poderes". O filme de Murat trata, com muita perspicácia, das relações perigosas entre as intimidades de políticos e aspirantes e empresários de comunicação e jornalistas. Como separar, então, o pessoal e o político? Mas, afinal, o pessoal não é político?
Em tempo, para aqueles que enxergam Brasília como a representação física da crocodilagem nacional, vale registrar que a antiga capital federal, o Rio, esteve sob jugo (a palavra é essa) do casal Garotinho nos últimos 8 anos e o atual governador eleito, Sérgio Cabral, saiu das fileiras do mesmo PMDB de Anthony e Rosinha. O que mais cresce na cidade? Segundo me contou uma jornalista candanga a quem quero muito bem durante uma visita minha à cidade, as favelas. E acredite em mim, já é um favelário imenso.
Talvez falte a Brasília um filme que a retrate como uma cidade feito outra qualquer do Brasil. E, claro, vergonha na cara de alguns de seus habitantes mais ilustres.
Saiu em DVD e vídeo "Brasília 18%", volta do cineasta Nelson Pereira dos Santos à ficção após "A Terceira Margem do Rio", curta de 94. O título do filme é alusivo ao clima semi-desértico da capital federal, situada praticamente no coração do continente sul-americano em vegetação de cerrado, num imenso planalto, que faz com que a umidade relativa do ar na cidade baixe a percentagens quase inumanas (daí o 18%) e não sei se guarda alguma relação com seu filme mais badalado, o "Rio 40°", que faz alusão ao tórrido verão da antiga capital federal.
Apesar de usar a cidade como cenário nas tomadas abertas, não é um filme sobre a cidade levantada no meio do país por JK num tempo onde talvez ser nacionalista não era algo cínico. Brasília 18% é um filme sobre o poder, sobre o lado humano do poder e como o poder embrutece, corrompe e deforma o que poderia haver de bom em nós. Nessa toada, mas aí já estou no campo da elucubração, talvez Brasília tenha "dado errado" porque o país deu errado também, e deu errado antes.
Não seria absurdo pensar que a idéia de Brasília como coração do país fosse mais que uma metáfora para JK. As largas avenidas e as grandes distâncias marcam a capital idealizada pelo homem que trouxe a indústria automobilística para o Brasil. A arquitetura de Niemeyer executada nos anos 50 soa moderna hoje, um outro século. No entanto, as grandes decisões do país continuam saindo do eixo Rio-SP, o que caracteriza o fracasso da idéia de transferir para a Nova Capital o coração do país. O país continuou velho, digamos assim.
Nessa cidade de contradições, temos o filme de Nelson e personagens de várias matizes sociais na trama que, com elementos de noir, navega pelo cenário político da capital - onde as decisões políticas do país são efetivamente tomadas. O grande barato do filme é que as personagens, antes de serem mesquinhas ou omissas ou generosas, são demasiadamente humanas. Não há o tom preto no branco que poderia tornar o filme desnecessariamente panfletário, mas várias cores para esboçar um quadro muito mais rico. O andar de trama nos mostra que os descaminhos do poder são muito mais tortuosos do que imaginamos.
Brasília 18% acabou me fazendo lembrar de outro filme sobre os meandros do poder na capital federal, este de Lúcia Murat, feito dez anos antes: "Doces Poderes". O filme de Murat trata, com muita perspicácia, das relações perigosas entre as intimidades de políticos e aspirantes e empresários de comunicação e jornalistas. Como separar, então, o pessoal e o político? Mas, afinal, o pessoal não é político?
Em tempo, para aqueles que enxergam Brasília como a representação física da crocodilagem nacional, vale registrar que a antiga capital federal, o Rio, esteve sob jugo (a palavra é essa) do casal Garotinho nos últimos 8 anos e o atual governador eleito, Sérgio Cabral, saiu das fileiras do mesmo PMDB de Anthony e Rosinha. O que mais cresce na cidade? Segundo me contou uma jornalista candanga a quem quero muito bem durante uma visita minha à cidade, as favelas. E acredite em mim, já é um favelário imenso.
Talvez falte a Brasília um filme que a retrate como uma cidade feito outra qualquer do Brasil. E, claro, vergonha na cara de alguns de seus habitantes mais ilustres.
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