sexta-feira, dezembro 29, 2006

Feliz ano velho

Não faço promessas de ano novo. Não pulo ondinhas. Não gosto de sidra Cereser. Não acredito em cores de camisa, cuecas, bermudas e saias. Felizmente encho a cara e rapidamente posso me integrar aos festejos de mais um ano cumprido, mesmo que tenha sido um ano bem merda, o que não é o caso deste atual.

Mas já os tive, podem crer, anos esquecíveis. Já tive revéillons (qual será o plural desta coisa?) péssimos, como a única que vez que aceitei ser rebocado para aquele memorável espetáculo de Copacabana, com os fogos no céu. Detesto fogos de artifício, desde sempre, acho a distração mais inútil já inventada em todos os tempos. Tenho horror a pessoas perto de mim soltando fogos, geralmente bêbadas.
Nada contra as pessoas estarem bêbadas. O problema é beber e resolver soltar fogos perto de mim. Se o bebum vai lá e lança o rojão contra si próprio, azar o dele - que nos próximos anos decida se irá aprender a beber ou a soltar fogos e, antes disso, encare uma equipe de plantão num hospital que nutra por ele o mesmo sentimento que eu. Acontece que eu sempre acho que o idiota com o rojão na mão está prestes a cometer a cagada de lançar aquele artefato contra mim.
Pois bem, Copacabana, 31 de dezembro. Para começar, você precisa se adiantar, porque o mundo - literalmente - corre em direção ao lugar. Ou seja, lá pelas 7 da noite, 5 horas antes de começar o novo ano, você estará fadado a estar preso no meio do trânsito em pleno alto-verão tropical. Ao chegar na praia, toda a comédia de costumes da cidade estará lá e junto com ela, o fogueteiro bêbado. Centenas, milhares deles, motivados por sidra e pelos fogos oficiais. Aquela passagem de ano foi um dos momentos mais tensos da minha existência. Já atravessei assaltos armados com maior tranqüilidade.
Claro, ainda tem a volta. Acredite em mim, bêbado ou não, e eu estava sóbrio, um ônibus lotado não é o melhor lugar para se estar às 6 da manhã do primeiro dia do ano. Especialmente estando sóbrio e com sono.
Esse ano lá pela virada pretendo estar já em 2008. Não tentem me ligar, os sinais de celular pifam.
E, a propósito, não sejam como eu, emburrados e velhos. Feliz 2007 pra vocês, de coração. Só não estourem fogos perto de mim, caralho.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

A hora é essa, minha gente

- O que você estava fazendo na rua a essa hora da madrugada, minha filha?
- Salvando o mundo, papai, salvando o mundo!

quarta-feira, dezembro 20, 2006


Não importa o quanto as coisas possam estar ruins, elas sempre podem piorar.

Grande Murphy. Um sábio.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Maria? É, Maria...
Comprei meu ingresso para o show do Chico hoje. Ele não vai. Lembro de dizer a ele que não poderia estar neste país sem ver um show do Chico Buarque, uma das maiores riquezas daqui. Ia comprar para ele. Dar a ele. Levá-lo. Ele não vai. Na verdade nenhum dos dois vai.
Estou em contato com a minha língua. Preciso escrevê-la e ouvi-la, sem deixar de ouvir o resto, claro. Essa música. “Descobri” essa música. Lembrei de novo. Associei de novo. Associo tudo agora. Todos os poros estão abertos e os neurônios atentos.

Olha Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir
Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar
Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré
Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar
Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder
Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer
Sem rede
Ridiculamente, as ferramentas cibernéticas agora influenciam pesado minhas relações. O corte cibernético me deixa para baixo. A internet se tornara o instrumento para facilitar as impossibilidades do mundo real. Exatamente o clichê da era. Não deixei de viver o real, mas a rede servia para amenizar saudades, divisões, medos e culpas. As palavras na tela do computador me trazem conforto durante os dias em que nada mais pode acontecer. On line. No more.
Agora, é usar as armas que existem. Agora é mais difícil. É se acostumar com o que não acontece há meses. É não esperar mais. É realmente se distanciar, sabendo um pouco do que acontece do outro lado, mas não o suficiente para diminuir as saudades e dúvidas. . claro que vai passar. E é claro que agora parece que não vai passar, porque é emergencial.
Acabei de sonhar com o que queria fazer. Acordo ainda com aquele gosto de suposta realidade, que torna o dia concreto, o dia a ser vivido, um pouco insuportável. Mas não tenho escolha. Não depende mais só de mim, como quando da morte do outro. O outro não morreu novamente. Está a algumas quadras de mim, palpável e impossível.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Quanto tempo vai durar...(tudo)?

De volta. De novo. Mais um blog. Acho que pelas mesmas razões. O blog de razões diferentes é o Freigeist, para resmungar sobre assuntos de trabalho. Anda meio paradão também.
Uma das funções de um blog é servir para ouvidos para sempre surdos. Vou postar aqui o que eu não posso postar para uma pessoa que não curte muito poesia, mas para quem os versos cairiam como uma luva, como caem para mim.

Passagem das Horas
Não sei sentir, não sei ser humano, não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens, meus irmãos na terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido. Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri. Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos. E fiquei triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda gente. Mas para toda gente isso foi normal e institivo. Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo. Não sei se a vida é pouca ou demais para mim. Não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for a vida, de tão interessante que é em todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser selvagens entre árvores e esquecimentos. (Álvaro de Campos)

Citado por Maria Bethânia no "Imitação da Vida", show de 1997 que marcou a minha e que tem pautado os últimos dias.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Jingle Bells

Mamãe, quando eu crescer, eu quero ser deputado.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Eles entendem tudo

Matéria lúdica e educativa retirada daqui, minha gente.

Primeiro ameaçados de extinção por conta da caça predatória e, mais recentemente, pela dificuldade de acasalamento em cativeiro, os pandas gigantes da China vivem este ano um inédito baby boom graças a uma combinação de dietas, pesquisa de biologia animal e um recurso insólito: os vídeos pornôs com pandas acasalando, que conseguem estimular os ursos chineses a acasalarem através de mecanismos de repetição de comportamento.

Em entrevista à agência de notícias "Associated press", Zhang Zhihe, diretora do Centro de Pequisas de Reprodução de Pandas Gigantes de Chengdu, capital da província de Sichuan, onde fica a reserva de Wolong, afirmou que, nos primeiros 10 meses deste ano, 31 pequenos pandas nasceram em cativeiro na China, dos quais 28 sobreviveram. Ano passado, foram 12 nascimentos. E em 2000, apenas nove. Zhang está na Tailânda, onde foi ensinar aos pesquisadores locais como usar o vídeo pornô para estimular sexualmente os pandas Chuang Chuang e Li Hui, do zoológico de Chiuang Mai, no Norte da Tailândia, dados de presente pela China aos tailandeses.

"Vamos usar o vídeo para fazê-los procriar em janeiro", afirmou o pesquisador tailandês Prasertsak Buntragulpoontawee à AP. "É a mesma lógica que faz alguns chimpanzés fumarem ao verem pessoas fumando ao seu redor".

Zhang Zhihe explica que, no início, os pesquisadores achavam que apenas colocando o casal de pandas juntos fosse suficiente para estimular o desejo animal. Mas os animais em cativeiro demonstravam o que os cientistas chama de "falta de socialização apropriada": "Sem companhias ao redor, quando o macho e a fêmea se encontravam para reproduzir, eles simplesmente se assustavam e acabavam brigando", explicou Zhang.

"No meio selvagem, os machos brigam pelas fêmeas, mas em cativeiro, é como se colocássemos um casal de humanos que não se conhecem juntos e os obrigássemos a fazer sexo".

Uma das saídas foi a criação de um vídeo pornô com cenas — e sons — dos pandas fazendo sexo, que se mostrou efeiciente para acender o desejo dos pandas em cativeiro: "São os sons e imagens do acasalamento que acabam estimulando os ursos", disse Zhang. "Pandas são como seres humanos. Eles entendem tudo".

domingo, dezembro 10, 2006

Divino!

E um cover irado.
Gentalha

Esse povinho não se emenda. Que pobreza, hein, galera?

segunda-feira, novembro 27, 2006

CBGB, 1987

That's what rock'n'roll is all about.

Miss you, guys.

sábado, novembro 25, 2006

Janaína

Mulheres, antes de qualquer coisa, esperam respostas. Decisivas, imponentes, curtas. Janaína queria de mim naquela sala de estar, uma quinta-feira chuvosa, nove e meia da noite, uma resposta.

Resposta essa eu que jamais saberia dar.

Já havia sido feita a noite e por inércia nos fizemos cometas, ela querendo arrancar de mim as palavras que precisava, eu querendo dela a carne, a pele, os pêlos. Mentirosos suspiros e cínicos arranhões. Eu não tinha palavras e ela não tinha desejo.

Os beijos mordiam e ela jurava mortes que estavam longe de acontecer naquela sala. Ela me olhava e se apertava para que eu entrasse mais, machucasse mais, gozasse mais. Talvez procurasse em mim o tesão que não havia, eu me segurava o máximo que podia para que ela ganhasse de mim naquela corrida rumo ao nada. Nós dois chegáramos a um lugar onde ambos não queríamos estar e aquele lugar era aquela sala, quinta-feira, nove e meia da noite.

Senti o sexo de Janaína se enroscar no meu e sua voz esganiçar e seus dentes em meu peitoral. Feito lágrima, deixei o sêmem escorrer para dentro dela e gani, moribundo.

A resposta nunca veio.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Johnny Guitar

Coisa fofa da mamãe.

quarta-feira, novembro 22, 2006

quarta-feira, novembro 08, 2006


Ouça no volume máximo.

Support your local rock'n'roll star.

segunda-feira, outubro 23, 2006

She don't lie, she don't lie, she don't lie

Aguardemos pela versão em pó.

(Matéria em ingrêis no Daily News e em bom português no Globo Online)

sexta-feira, setembro 22, 2006

Curto

- O que você quer de mim, amor?
- Você, você por inteiro.
- E depois, como eu faço quando eu for menos do que você quer?

Nunca gostei de respostas fáceis.

sexta-feira, setembro 08, 2006


"Posso até mudar o mundo, mas quero ganhar bem por isto."

domingo, agosto 06, 2006

Love is fuck, man

Quando sua namorada diz que te ama e te dá de presente uma camisa do Brasiliense, é melhor você acreditar nela e usar a camisa, bróder. Não discuta, é amor e amor não foi feito pra discutir. Aqui estou eu, sem sono, sem teto, na casa de amigos gastando horas ou alguns minutos para esvaziar a cabeça cheia de novidades para absorver e a descobrir. Vestido com uma oficial camisa do Brasiliense - que é de Taguatinga, inclusive.

Foram dias corridos e frios esses dias passados. Aquela remoção finalmente saiu e de Belém vim parar aqui em Porto Alegre, junto com o inverno gaúcho. É um senhor inverno, de gelar sua cama, gelar suas roupas, corroer a pele de seu nariz de batata (nariz de coxinha, segundo ela). Você pragueja, se movimenta e se encolhe dentro do casaco, do edredon, de um abraço e segue em frente, atravessa a Osvaldo Aranha e entra no Parque Farroupilha.

A essa altura da manhã, já não importa o nosso bafo.

Gosto dessa camisa laranja com listras verdes, o anúncio do Banco de Brasília e da Ok Automóveis e mais outros; uma camisa horrorosa e feia pra dedéu de um time lamentável, mas uma camisa que eu gosto porque representa um momento de mim, de mim e mais alguém que eu gosto. Ela me deu uma camisa do Brasiliense porque sabe que eu, nas horas vagas, escrevo sobre futebol. Não é somente um pedaço de pano mal decorado, é uma declaração de amor, carinho e compreensão.

E uma mulher que te faz essas coisas é foda, cara. Ela vai qualquer dia desses salvar sua vida e você só irá se dar conta anos depois, quando nas mãos de uma megera ou nem isso. Enquanto você não se dá conta de sua própria sorte, se agarra a sua camisa do Brasiliense e dorme mal e porcamente a noite anterior do primeiro dia no novo lugar onde vai trabalhar a partir de amanhã.

Vá entender.

quinta-feira, maio 18, 2006

The times they are a-changin'

São Paulo 40 graus, cidade-celulóide do asfalto e do caos. O alto-comando da marginália paulista resolveu se fazer conhecido em território nacional, como seu equivalente carioca já o é, mas com muito mais fama e cama. De uns dias pra cá "Marcola" deixou de ser apenas um apelido tré ridicule para se transformas em síndrome do pânico. Marcola, aparentemente, é a versão tucana (hahaha) do Beira-Mar, o inimigo nº 1 do Estado que amamos odiar.

Surpresa, muita gente não sabia que São Paulo, a novaiorque tropical, era uma cidade bem mais violenta que o Rio. Muito mais violenta. São Paulo e seus Capões, São Paulo do Carandiru, das brigas de torcidas. Bonner apresentou o Jornal Nacional de segunda passada nas ruas de Sampa, como se estivesse em Beirute ou Bagdá. Logo ele, morador do Rio (apesar de paulistano) e que já deve ter ouvido falar da chacina em Duque de Caxias, comandada por homens da lei. Não lembro dele de microfone em punho na Baixada, mas, reconheço, Caxias não tem o mesmo charme do outono de SP.

Apesar dos ônibus queimados, de presídios rebelados, bancos apedrejados e policiais mortos, o que apavora o cidadão comum que apenas trabalha (e trabalha cada vez mais) e "espera estar bem vivo quando o rodo passar", a coisa toda tem um jeito de cartas marcadas. Não pareceu muito tratar de guerra civil, não. Pareceu mesmo foi acerto de contas. Nossos corruptos são mais incisivos que os deles, diria o publicitário da Semp-Toshiba. Cada um negocia com aquilo que tem e, ao que pareceu, alguns de nossos presidiários possuem rabos valiosos presos a seus pés.

Agora teremos várias manifestações com maior ou menor grau de sapiência: gente querendo instalar o "olho por olho, dente por dente" no Brasil, gente reclamando que a Copa do Mundo vai varrer tudo pra debaixo do Hexa, tucanos acusando petistas, petistas futricando tucanos, pefelistas lavando as mãos eternamente sujas, cariocas sacaneando amigos paulistas. Faz parte da vida. Todos temos razão - e no final, ter razão é ter um ponto de vista bem angulado.

Aqui de Belém, me interessa mais saber onde o jogo vai passar, e que horas. O resto, de coração, pode esperar. Estou aqui escrevendo e vivendo para ser feliz. É para isso que ganho meu dinheiro, é pensando nisso que gasto o dinheiro que ganho. Não é muito, eu sei, mas também nem tudo está à venda.

Para o que realmente importa, eu já tenho o meu sorriso.



Na foto, o Godo sorrindo para o que realmente importa.

terça-feira, maio 09, 2006


Laugh of the month.

quinta-feira, abril 27, 2006

Instant Gravitation

A cada cigarro que deixo por aí, há uma culpa e uma saudade. Parece poesia, mas é uma merda.

Quero contornar as esquinas todas do mundo e não voltar. Ela me disse, na minha cara, enquanto eu enchia nossos copos que eu precisava crescer e amadurecer. Não que eu não soubesse disso, eu só não sei o que fazer ou não quero, acho que me acostumei a ser eu mesmo e resolvi deixar levar.

Desde então os dias nublaram todos. Estou sem paciência para ser eu mesmo, estou de saco cheio de acordar todo dia. Viro fantoche da minha própria fantasia e saio para cumprimentar todos nas filas, nas padarias, nas calçadas. A resposta está dentro de mim, é óbvio e cristalino, seja qual for minha dúvida, a resposta existe em algum canto perdido deste corpo condenado a uma vida qualquer, feito qualquer outro corpo.

Quero dizer, talvez ela apenas tenha me dito que eu sou muito pouco. Que eu posso ser mais e melhor. Talvez eu devesse ter alguma ambição. Não acredito em ambição nem em longos prazos. Quando muito, vislumbro o que devo fazer para daqui a duas horas. Acredito, sim, no sorriso e nas palavras dela.

A pior coisa na vida de um homem é uma mulher.

Mas é a melhor coisa também.

Deixa eu ir ali fumar um cigarro a caminho do trabalho e já volto.

domingo, abril 09, 2006

Saudades, amor?

Gente, boa notícia a meus 3 leitores. Não morri, ou, como canta Dylan, não morri ainda. Apenas saí de férias e a cabeça ainda não pegou o ritmo anterior de volta, daí o aparente abandono do espaço aqui.


(Talvez a notícia não seja tão boa, dizem que escritores são valorizados quando morrem jovens - o que talvez não se aplique mais a um homem de 28 anos)


Portanto, confessa a minha falta de palavras pra alocar aqui, vou tratar de enchê-los de lingüiça, assim, na cara dura e nem digo num sentido metafórico-grosseirão-pornô. Vou elucubrar sem nenhum destino aparente, na esperança de algo interessante acontecer até o ponto final. O risco de quem quiser ler, fica por conta própria.


Dia desses bateu a dúvida de meus dias de escritor terem estourado o prazo de validade. "E se não consigo mais criar ficção?" Sentava, ligava o computador e nada do parágrafo seguinte chegar. Tensão. A pior coisa é parar uma história no meio e não conseguir seguir adiante. É uma autêntica broxada, sendo que neste caso, usar língua e dedo na tela não vai resolver nada. Ou eu acho que não.


Depois disso, vieram as férias e foi mais de um mês na esbórnia. Os amigos estavam com saudades de mim, eu estava com saudades de meus amigos. Juro que na bagagem do meu périplo Belém-Rio-SP-Rio-Ouro Preto-Belém havia, além duma autêntica pilha de livros, um caderno meio nas últimas com um dos meus contos por terminar - e este está por terminar mesmo, é só questão de colocar as palavras no papel, mais nada. Mas quem disse que eu peguei a caneta e escrevi?


Pode não parecer, porque quem sentar pra conversar e beber comigo vai continuar vendo o mesmo sujeito que escreve essas e outras linhas, conta piadas, inventa chistes e ri de qualquer bobagem. Mas o processo de não conseguir escrever, a página em branco, o capítulo incompleto, tudo isso me angustia no final da noite. E não é o primeiro bloqueio de escritor que ultrapassa a minha vida, eu, que nunca perguntei a um escritor de verdade se esse negócio de bloqueio não é só lenda.


O irônico é que as férias foram ótimas. Certamente há momentos dela que podem render bons cenários de fundo para eu construir histórias em cima e eu ficaria contente em registrar, mesmo subjetivamente, frases ou sentimentos vividos no último mês de março. Porém, na mesma medida que tenho ganas de ler (acho que estou lendo uns 5 livros, simultaneamente, um deles em inglês britânico) me falta vontade de escrever. Estou assim, faltando um pedaço.


Continuo (ou não) esse exercício pessoal de busca da minha literatura perdida noutro post, meus amores. Bateu a fome no autor agora. Deixa eu ir lá me fritar uns x-búrguis e deitar na rede pra curtir "Houve Uma Vez Dois Verões" no DVD.


Escritor decadente também é filho de Deus.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Oh, Lord, I'm coming!!

Você sabe o que é um orgasmo? Mesmo? Já teve algum?

Há mulheres que nem imaginam o que seja, e não estou falando de freiras - que devem gozar muito bem, aliás.

Ia dormir logo depois daquela série "politicamente incorreta" da GNT, Weeds, que fiquei vendo reprisar enquanto jantava neste domingo e já passava de meia-noite, não exatamente uma hora própria para janta. E começou um daqueles documentários ingleses cheio de ironias, ingleses bêbados, suecas ninfas e vovós taradas sobre o tal do ORGASMO, o maior desafio na vida de qualquer homem que se preze.

Quero dizer, documentários sobre sexo geralmente acabam desandando e parando nos freaks (mulheres que só conseguem gozar ao ser penetradas por elefantes besuntados de creme-de-leite e afins) ou então são mais chinfrins do que tentar bater umazinha e broxar. É difícil chegar num meio-termo e fazer algo realmente informativo, com um pingo de graça, pois afinal é sexo, algo muito legal quando feito por quem sabe.

Esse aí, salvo umas bobagens, ficava naquela zona do interessante, e resolvi ver. Os europeus são muito encucados com o sexo, transformam a coisa em algo muito maior do que ela realmente é. E o tema orgasmo carecia de uma opinião masculina de respeito - tipo um galã do cinema pornô, um jogador de futebol tipo o Romário, o Motumbo - e ficou muito centralizado em mulheres aproveitando a câmera e o microfone para dizer que seus vibradores eram mágicos, seus namorados (noivos, ex, atuais, amantes, clientes, etc.) eram uns fiascos e que bom mesmo era a masturbação. Seus dildos e seus dedos.

Havia um especialista em orgasmos (uau, que onda, hein?) mas você olhava para o sujeito de terno, um monte de livros atrás, um computador provavelmente desligado na mesa dele, aquela cara de pesquisador e pensava em muita coisa, mas não imaginava o sujeito fazer as mulheres subirem pelas paredes em ânsia e sofreguidão. Esse cara e mais um vovô que havia escrito um sexy best-seller ou algo do gênero sentado numa sex-shop, além de entrevistas com ingleses bêbados dentro de um pub ou saindo de um jogo de futebol formavam a oplinião masculina.

Os temas eram os mesmos de qulquer daquelas incontáveis reportagens que você já leu na Veja ou viu no Fantástico. O que é o clitóris? Para que serve? Onde fica? Orgasmos múltiplos? Orgasmos? Apesar das perguntas, as respostas compensavam, porque tinham sua graça. Especialmente as respostas dos não-especialistas. As especialistas fêmeas (uma coroa-vovó que se dizia a rainha da siririca ou algo do gênero, especialmente) entravam numas de dizer que o melhor orgasmo só podia ser alcançado na solidão.

Peraê. Vamos pensar só um pouquinho, um quase nada de raciocínio. Temos o pênis e a vagina de protagonistas, línguas, dedos, bundas, peitos e mais um tanto de coadjuvantes e a mulher vem me dizer que uma siririca é melhor que uma pusta trepada onde ambos gozam? Pergunto porque sei bem como é o lado de cá, o lado masculino. Uma punheta pode, quando muito, ser legal. Só. A fissura acontece mais quando nós, pobres adolescentes, apenas temos a nossas mãos e as coelhinhas da Playboy. Depois que a gente conhece a realpolitik, the hot stuff, o rala e rola, espancar o macaco se transforma em último recurso. Algo saudável, sem dúvida, mas que jamais substitui uma boa foda.

Daí a gente pode esticar a corda e chegar na ferida: o feminismo radical não passa de uma variação burra do machismo. Se o o machismo das cavernas é uma estupidez (e é), o feminismo radical que pensa que a mulher pode muito bem existir sem o homem é a estupidez suprema. Assim como homens e mulheres são seres absurdamente dissonantes, é por essa dissonância que um necessita do outro. É o velho papo-clichê-brega da cara-metade. Claro, agora que temos que ser politicamente corretos ou homossexuais mal-resolvidos irão querer nos processar, nem sempre as metades serão no modelo padrão, pode ser que um cara se sinta completo com outro ou uma moça prefira o abraço de uma semelhante mas, ainda que os amantes do arco-íris creiam piamente que todo mundo é gay, a maioria dos homens procura uma mulher que os complete e vice-versa.

A solução, meus amores, não pode ser fechar os olhos e meter a mão na massa. Acreditem na palavra de alguém que conhece de muito perto o paliativo manual. Para gozar bem, o melhor caminho é o sexo oposto ao seu. E esse sexo, sempre bom lembrar, começa na língua. Com duplo sentido, por favor.

domingo, fevereiro 12, 2006

Elucubrações & Reminiscências Dominicais

O pior pesadelo do escritor é faltarem as palavras. Não que elas faltem, elas estão por todo lugar, mas as palavras certas. Tenho um problema seríssimo com as palavras certas, talvez por abusar das erradas.

Sou meio chato com palavras a serem ditas ou escritas. Gosto de palavras que não sejam absolutas demais, que não completem a sentença e ponto final. É bacana sugerir algo que não se tenha dito ou escrito em absoluto, mas que não possa ser negado. Coisa minha. Também tenho uma certa relutância em escrever os períodos vebais em sua ordem correta, o tal "sujeito-verbo-predicado".

E tenho gosto por gírias antigas e períodos curtíssimos, embora adore parágrafos enormes. Desenvolver subcontextos dentro do contexto da idéia principal, floreios, punhetação pseudo-psicológica, papo de bêbado.

Corte brusco.

Maracanã lotado. Dia de sol. Chegada do Papai Noel. Quem não é do Rio e não seja tão velho talvez ignore o que seja "A Chegada do Papai Noel". No meu tempo (anos 80, argh), havia esse ritual natalino no Rio de Janeiro. Papai Noel chegava no meio de um palco montado no gramado do Maraca de helicóptero (mas onde estavam as renas e aquele trenó?) e recebia em mãos do prefeito a chave da cidade, meio que oficializando o Natal. Não era pouca merda, não. Além de já termos enfiado nessa história a administração do Município, um helicóptero e o Maraca, o evento tinha transmissão ao vivo da Globo e apresentações musicais e dos artistas platinados - leiam Xuxa.

Como dá pra se inferir pelo início do parágrafo anterior, eu presenciei in loco uma dessas chegadas. Lembro vagamente da Xuxa saltitante no meio do palco, de uma multidão aguardando o velho descer de helicóptero saído diretamente do Pólo Norte para o calor tropical sem escalas (morte súbita na certa). Um calor de rachar. Meu avô me levou no progamaço indígena, minha vó deve ter ido junto e meu irmão caçula foi com certeza. Não sei se alguma das minhas primas entraram nessa roubada, mas é provável que a mais velha estivesse na fotografia. Todos na arquibancada, chegamos cedo pra pegar um lugar coberto e protegido do sol - porque o lugar lotava de pirralhos e seus infelizes pais.

Eis que em dado momento da farofada sinto aquela vontade irresistível de mijar. Tudo que ocorria no palco começa a ficar nublado, porque fiquei ali me apertando e mudo, um autêntico monge. Não lembro direito o porquê da minha mudez, mas eu acho que fiquei com medo de me levantar e perdermos o nosso lugar. Foi um aperto brutal, nem lembro direito das coisas que aconteciam no palco, mas lembro até hoje do sacrifício que foi me segurar até não dar mais.

Porque, era óbvio, uma hora não iria dar mais. Com o calor, tomei litros de sacolés e refrigerantes e água. Aquele líquido todo precisava sair para eu poder continuar tendo meu sangue limpo. E então, morto de vergonha, sob as vistas dos avós, do caçula e talvez da prima, ignorei as cem mil pessoas no Maracanã, a Maria Meneghel, o Renato Aragão, a minha dignidade e ali mesmo, sentado na arquibancada, soltei toda minha apreensão. Lembro até hoje do calor e do cheiro.

Depois disso o velho chegou, de vermelho e de helicóptero. E eu pedi mais um sacolé.

Recapitulando.

As palavras sempre difíceis. Desde pequeno vem o meu medo delas. Se eu as respeitasse menos e as usasse mais, decerto seria um homem menos complicado. E aposto que treparia mais.

sábado, fevereiro 04, 2006

Munique

Deus é fiel. Resta saber a quem.

Tenho lá meus quase 28 anos de vida. Até o meu pré-vestibular eu ainda acreditava em grandes causas, coisas como socialismo, comunismo, anarquismo, solidariedade, revolução, etc. Eu era de esquerda, achava todos os direitistas um fdps desalmados para os quais o empalamento seria sessão da tarde.

Eu era um idiota, eu sei.

Felizmente a gente cresce e, nesse crescimento, vai começando a enxergar as coisas, the real thing, das realpolitik, de perto. Felizmente, entendam, é um modo de dizer. Não sou mais feliz do que era há anos atrás. A gente vai embrutecendo e perdendo o encanto, virando concreto, encolhendo. A gente, entendam, também é um modo de dizer. Falo de mim. Não sei falar de mais ninguém.

Quando entrei na faculdade, e isso já tem uns bons sete anos passados, não acreditava mais em muita coisa. Votei no Lula com alguma relutância porque já desconfiava que o petismo era algo meio estúpido, tipo acreditar em algo porque não há nada melhor pra pôr no lugar. Desnecessário dizer que votei no Lula e anulei o restante dos votos. Não acreditava e agora consigo acreditar ainda menos no sistema político e partidário do Brasil. Criancinhas na África, no Iraque, na Seca? Truque publicitário. Fiquei áspero assim. Claro que há pessoas fodidas e, especialmente, mal-pagas por todo o lugar mas não são elas que me levam a me comprometer com quem quer que seja que se utilize das imagens delas sob uma certa luz ou uma certa música.

Não tenho muita tendência a acreditar nos outros. Me conheço o suficiente pra saber como alguém pode inventar qualquer história para se justificar perante o mundo, ou simplesmente conseguir uma foda antes de dormir. Por que os outros seriam diferentes? Ou ninguém nunca disse à própria mãe uma cascata qualquer por uma noite de sexo, drogas, roquenrou ou RPG? No final, só devemos contas a nós mesmos perante o que somos ou o que fazemos. Faze o que queres, há de ser tudo da lei.

O que sobrou no mundo foram as pessoas que me interessam. Meus pais, minha família, meus amigos, minhas mulheres. O que importa é quem você ama, quem você amou e quem você pode amar. O que me importa. Ainda assim, você também irá mentir e ser calhorda com algumas dessas pessoas - porque, sei lá, somos todos idiotas em última análise. Essas pessoas são aquelas de quem você espera não o perdão, mas que elas saibam que você não as deixou de amá-las por ser idiota, apenas foi idiota. Perdoar ou não a merda que se faça com alguém não é da sua conta, a não ser que o outro queira que seja.

Munique, de Spielberg, não é um filme sobre judaísmo, ou terrorismo. Seria uma redução ridícula e desnecessária. O que árabes e judeus, ou melhor dizendo dizendo, árabes e ocidentais fazem (homens-bomba, aviões-bomba, cartas-bomba) mundo afora nossa boa e velha polícia faz em cada beco, em cada rua sem asfalto e luz e água, com os pobres e pretos. E vice-versa. Status quo. Munique é uma pergunta. O que, afinal, somos? Do que se trata nossa civilização? Que diabos é a nossa racionalidade?

Nenhum dos lados está certo, não há razão no morticínio. Mas este mesmo morticínio é engenhado com precisão milimétrica - as pessoas precisam de um motivo para matar. Quem move a engenharia, o cálculo, os tiros precisos, as gramas de TNT, é a crença de que o inimigo precisa ser punido. "Quem é o inimigo e quem é você?", pergunta a canção da Legião.

Avner, o agente recrutado pela polícia secreta judaica para vingar os 11 atletas israelenses trucidados em plenos Jogos Olímpicos de Munique em 72 pelo Setembro Negro, organização terrorista palestina, hesita o tempo todo. Ele quer matar, mas não quer ser um assassino. Não pode matar inocentes. Trata-se de um jogo e Avner quer seguir as regras. Spielberg deixa claro que as ações de Avner (e de Israel) são todas seguidas de uma reação. Não há mocinhos, só há bandidos. A culpa acaba por consumir Avner, o homem vai deixando de ser humano, o sono é vigiado, a culpa toma o lugar da sombra. Ao defender sua terra, ele se exila com a família no exterior porque não há segurança na terra defendida. Ao combater um inimigo apátrida, terra alguma é exílio. Não há final feliz porque, convenhamos, basta ligarmos no noticiário para sabermos que não há final.

Deus é fiel. Resta a nós, idiotas, saber a quem.

sábado, janeiro 28, 2006

Juro que o poema é inocente.


Eu sozinho
você longe
uma noite calada
e palavras adormecidas.


Cabe a você
a decisão
de bagunçar tudo
e, estrela por estrela,
reescrever esse poema.

sexta-feira, janeiro 27, 2006


www.malvados.com.br - Terapia e humor diário

terça-feira, janeiro 24, 2006

Ciência Hoje






domingo, janeiro 22, 2006

Otimismo que se bebe


Pode me chamar de babaca se quiser. Você não estará errado, só que também ser babaca não anula meu ponto de vista.

A idéia de nascer e morrer num mesmo lugar me deprime. Seriamente. Cenários repetidos, lugares repetidos, pessoas repetidas. Não consigo aceitar. Há muita coisa a ser vista para ficarmos presos a qualquer lugar. Talvez a idéia se passe em minha cabeça porque já fixei residência em três estados diferentes da federação e me encaminho para me mudar para o quarto da série. Será o último? Irei me sossegar de vez em Porto Alegre, criar raízes? Dúvidas e delírios.

PoA tem algo que tive na vida quando menino em Mandaguari, Paraná - frio, muito frio, durante o inverno. No Rio de Janeiro de minha adolescência os invernos ficaram mais amenos, mas a cidade obviamente compensava a falta de frio alguns meses no ano. PoA tem um jeitão roquenrou, um clima na noite de guitarras distorcidas e amigos meus roqueiros por lá, do tipo que ficam bebendo por horas e ouvindo Black Sabbath. Sim, eu sou do tipo que fico bebendo por horas ouvindo Black Sabbath. Reza a lenda que PoA tem as meninas mais guapas deste país. Depois de morar um ano em Belém, dias frios fazem parte dos meus sonhos, assim como colegiais sedentas por sexo que vestem baby-doll.

O lado bom de morar em lugares novos é passar por desconhecido caso você queira. Um estranho no ninho. Me ajuda a escrever aqui em Belém ser íntimo de poucos. Quase ninguém me liga, me convida para festas, etc. Tenho as noites e finais de semanas meus, posso simplesmente ficar em casa lendo ou escrevendo, em meio às músicas que eu preferir ouvir. Não deverá ser assim em PoA, mas lá não precisa ser assim. Muita solidão também pode te deixar meio doentio, meio enferujado para relacionamentos, meio egoísta. Agora mesmo teclo essas palavras vazias em meio ao meu silêncio. A cidade também está calada lá fora. Ouço meus amigos de futebol e suas risadas lá embaixo.

Noite calada e sóbria. Talvez me faça rabiscar um poema, há tempos que não arrisco versos. Há o tempo da poesia e o tempo da prosa, para mim sempre funcionou assim. Há palavras que pedem versos. O meu problema com Belém não é apenas o clima, mas, especialmente, a distância. Estou muito longe de tudo o que aprendi a gostar nessa cidade. Ajuda a escrever mas quando não escrevo, a vida me urge. Já tive sexo o suficiente para saber que melhor que o sexo é o sentimento, mas para sentimento precisa haver convívio. Sexo, cigarros e álcool. Essa cidade não me negou nenhum dos três, essa cidade me fez escrever mais e melhor. O porém é estar longe de qualquer amigo que eu tenha feito nesses últimos anos, no Rio ou em São Paulo ou em qualquer outro lugar ao sul. Daí uma certa angústia que me assalta de me perceber aqui, num lugar onde não quero morrer e não quero arrumar compromissos a longo prazo. Estou aqui de passagem. E não sei quanto tempo esse rito vai durar. Mas não consigo pertencer a este chão, a este céu, a esta chuva.

Talvez eu não seja de lugar nenhum.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sketches for my sweetheart, the drunk.


Fui ali na janela e estava de fato chovendo. Acendi um cigarro, outro dos meus Marlboros. Ando fumando e gostando de fumar, talvez porque sozinho numa cidade já não tão estranha mas não tão familiar. Um apartamento idem. Quando fumo, sempre tenho o insight de sentar aqui e escrever algo pra garantir minha imortalidade - ou levar alguém a querer me clicar tragando um Marlboro em p&b. É a vida. Se escrevo pouco, é porque sou preguiçoso mesmo.

Primeiro pensei em iniciar uma série de posts sobre as mulheres que marcaram a minha já não tão curta existência. Daria nomes? Simularia literatura? Ainda não resolvi, mas a idéia está registrada. O fato é que, por mais que eu adore escrever, não queria começar a escrever novas coisas antes de terminar os projetos em andamento - que são, deixa eu ver aqui nos meus documentos, são dois. Há mais um, que não está digitalizado, apenas no papel. O título seria, ou será, esse mesmo aí de cima que vem a ser roubado de um disco póstumo de Jeff Buckley. Jeff escreveu a grande música de amor dos anos 90, "Lover, You Should've Come Over" (Oh, but maybe I'm just too young to keep good love/From going wrong/Oh... lover you should've come over) e morreu novinho. Ficou chegado da Courtney Love, encheu a cara e resolveu mergulhar durante um passeio de barco. Antes, gravou a tal música e mais algumas sobras de estúdio que foram dar em um ou dois discos póstumos que nunca ouvi. Mas adoro o título - algo como "Notas para o meu querido, o bêbado".

Aí lembrei de duas coisas e concluí uma terceira, não exatamente nesta ordem. Sim, falo demais e sou péssimo pra ordenar o pensamento - e o engraçado é perceber que às vezes chego em lugares inimagináveis e aparentemente divertidos (o ouvinte ri, me beija, enche meu copo, etc.) sem saber exatamente onde vou. Lembrei que precisava lavar a louça da janta, para não correr o risco de me emputecer com formigas pela manhã que vem; esqueci a segunda coisa; concluí que o fato de ter baixado 4 músicas da Donna Summer nesta noite e gostado de todas era um sinal de que eu estou ficando velho. Meu pai ouviu muito Donna Summer quando eu era mais novo e essas músicas deveriam estar adormecidas naquela parte mais filial de mim, tipo um back up biológico sentimental. Eu resolvi baixar porque ouvi uma musiquinha não sei onde que me fez lembrar dessa coisa do meu pai ouvindo Donna Summer e fui procurar por ela no Soulseek e nenhuma das 4 era tal música. Foda, uma das músicas que mais gosto e não sei o nome dela. Meu pai ouviu muito também o Tábua de Esmeraldas, do Jorge Ben, lembro dele gravando (outros tempos, discos de vinil, fitas cassete) Errare Humanum Est e ele tinha uma certa fixação pelo final da música, Jorge e sua banda mandando ver, Guga Stroeter castigando na bateria e o negão mais sublime deste país começa a contagem regressiva: Déez, nóove, ôoito, séete, sêeis, virada de bateria, cíinco, quáatro, trêes, outra viradaça de bateria, dôois, úum, bateria até o fade out, zéero. Percebe-se que gosto muito da música como ele. Herança? Pareço mais com meu pai do que um, talvez exceto ele e minha mãe e alguns parentes mais próximos - o que já dá uma boa cabeçada para eu me meter a classificá-los como exceções, do que qualquer um pode imaginar. Aliás, nunca vou escrever exceções sem ter a dúvida de que deveria escrever excessões. Já me resignei.

O fato é que talvez tudo isso - do Marlboro na janela chuvosa ao Jeff Buckley, tadinho, morto e sendo pirateado no meu computador enquanto registro essa madrugada - teve origem de tarde, no meu trabalho onde mantenho o MSN online para matar tempo e saudades. Graças a esse artefato, mantenho contato quase diário com amigos no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, em Curitiba, em Porto Alegre, onde eles estiverem. Uma dessas pessoas, Didi, me mandou uma foto via e-mail. Temos uma certa história, que posso dizer muito bonita, até porque sou coadjuvante dela e não converso com ela como conversaria com você, por exemplo. A foto mostrava Didi com uma taça de espumante (ou talvez aquele crime etílico denominado cidra), com o sorriso mais lindo do mundo, com o celular conversando comigo, porque nos falamos quando o 2006 chegou aqui em Belém já meio bêbado da festa começada antes no sul do país, onde há o horário de verão. E, ao salvar a foto nova aqui no meu computador, acabei revendo as outras - tenho fotos ótimas de momentos em que não pude estar perto dela arquivadas. Só nos encontramos pessoalmente em três ocasiões, duas na cidade dela, BH, outra no Rio. Mas parece que a conheço desde sempre. Só parece, tenho certeza.

Acho que é isso. Não é só isso, com certeza há mais coisas não-escritas, mas vocês precisam também inventar suas próprias canções. Ainda não sei se irei usar este espaço ou o Dogmas para minhas Sketches. Não não cansei do Dogmas, pelo contrário, gosto cada vez mais de lá. Mas lá somos dois, há já uma certa tendência de eu usar ficcionalmente aquele espaço e gosto que seja assim. Aqui eu não sei como vai ser, mas será algo meu - não mais pessoal, porque minha literatura e outrossins publicados no Dogmas são pessoais - e apenas mais meu, sei lá o que quero dizer com isso, talvez você tenha entendido. Mas certamente Didi será a primeira de minhas mulheres sentimentalmente biografadas. Ainda que, vejam bem, Didi nunca tenha sido minha mulher nesse sentido que você lê.

O que farei agora? A janela está aberta, a louça lavada. Vou deixar mais um pouco de minha saúde se consumir pela madrugada e depois durmo. Qualquer outra hora volto aqui.