segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Oh, Lord, I'm coming!!

Você sabe o que é um orgasmo? Mesmo? Já teve algum?

Há mulheres que nem imaginam o que seja, e não estou falando de freiras - que devem gozar muito bem, aliás.

Ia dormir logo depois daquela série "politicamente incorreta" da GNT, Weeds, que fiquei vendo reprisar enquanto jantava neste domingo e já passava de meia-noite, não exatamente uma hora própria para janta. E começou um daqueles documentários ingleses cheio de ironias, ingleses bêbados, suecas ninfas e vovós taradas sobre o tal do ORGASMO, o maior desafio na vida de qualquer homem que se preze.

Quero dizer, documentários sobre sexo geralmente acabam desandando e parando nos freaks (mulheres que só conseguem gozar ao ser penetradas por elefantes besuntados de creme-de-leite e afins) ou então são mais chinfrins do que tentar bater umazinha e broxar. É difícil chegar num meio-termo e fazer algo realmente informativo, com um pingo de graça, pois afinal é sexo, algo muito legal quando feito por quem sabe.

Esse aí, salvo umas bobagens, ficava naquela zona do interessante, e resolvi ver. Os europeus são muito encucados com o sexo, transformam a coisa em algo muito maior do que ela realmente é. E o tema orgasmo carecia de uma opinião masculina de respeito - tipo um galã do cinema pornô, um jogador de futebol tipo o Romário, o Motumbo - e ficou muito centralizado em mulheres aproveitando a câmera e o microfone para dizer que seus vibradores eram mágicos, seus namorados (noivos, ex, atuais, amantes, clientes, etc.) eram uns fiascos e que bom mesmo era a masturbação. Seus dildos e seus dedos.

Havia um especialista em orgasmos (uau, que onda, hein?) mas você olhava para o sujeito de terno, um monte de livros atrás, um computador provavelmente desligado na mesa dele, aquela cara de pesquisador e pensava em muita coisa, mas não imaginava o sujeito fazer as mulheres subirem pelas paredes em ânsia e sofreguidão. Esse cara e mais um vovô que havia escrito um sexy best-seller ou algo do gênero sentado numa sex-shop, além de entrevistas com ingleses bêbados dentro de um pub ou saindo de um jogo de futebol formavam a oplinião masculina.

Os temas eram os mesmos de qulquer daquelas incontáveis reportagens que você já leu na Veja ou viu no Fantástico. O que é o clitóris? Para que serve? Onde fica? Orgasmos múltiplos? Orgasmos? Apesar das perguntas, as respostas compensavam, porque tinham sua graça. Especialmente as respostas dos não-especialistas. As especialistas fêmeas (uma coroa-vovó que se dizia a rainha da siririca ou algo do gênero, especialmente) entravam numas de dizer que o melhor orgasmo só podia ser alcançado na solidão.

Peraê. Vamos pensar só um pouquinho, um quase nada de raciocínio. Temos o pênis e a vagina de protagonistas, línguas, dedos, bundas, peitos e mais um tanto de coadjuvantes e a mulher vem me dizer que uma siririca é melhor que uma pusta trepada onde ambos gozam? Pergunto porque sei bem como é o lado de cá, o lado masculino. Uma punheta pode, quando muito, ser legal. Só. A fissura acontece mais quando nós, pobres adolescentes, apenas temos a nossas mãos e as coelhinhas da Playboy. Depois que a gente conhece a realpolitik, the hot stuff, o rala e rola, espancar o macaco se transforma em último recurso. Algo saudável, sem dúvida, mas que jamais substitui uma boa foda.

Daí a gente pode esticar a corda e chegar na ferida: o feminismo radical não passa de uma variação burra do machismo. Se o o machismo das cavernas é uma estupidez (e é), o feminismo radical que pensa que a mulher pode muito bem existir sem o homem é a estupidez suprema. Assim como homens e mulheres são seres absurdamente dissonantes, é por essa dissonância que um necessita do outro. É o velho papo-clichê-brega da cara-metade. Claro, agora que temos que ser politicamente corretos ou homossexuais mal-resolvidos irão querer nos processar, nem sempre as metades serão no modelo padrão, pode ser que um cara se sinta completo com outro ou uma moça prefira o abraço de uma semelhante mas, ainda que os amantes do arco-íris creiam piamente que todo mundo é gay, a maioria dos homens procura uma mulher que os complete e vice-versa.

A solução, meus amores, não pode ser fechar os olhos e meter a mão na massa. Acreditem na palavra de alguém que conhece de muito perto o paliativo manual. Para gozar bem, o melhor caminho é o sexo oposto ao seu. E esse sexo, sempre bom lembrar, começa na língua. Com duplo sentido, por favor.

domingo, fevereiro 12, 2006

Elucubrações & Reminiscências Dominicais

O pior pesadelo do escritor é faltarem as palavras. Não que elas faltem, elas estão por todo lugar, mas as palavras certas. Tenho um problema seríssimo com as palavras certas, talvez por abusar das erradas.

Sou meio chato com palavras a serem ditas ou escritas. Gosto de palavras que não sejam absolutas demais, que não completem a sentença e ponto final. É bacana sugerir algo que não se tenha dito ou escrito em absoluto, mas que não possa ser negado. Coisa minha. Também tenho uma certa relutância em escrever os períodos vebais em sua ordem correta, o tal "sujeito-verbo-predicado".

E tenho gosto por gírias antigas e períodos curtíssimos, embora adore parágrafos enormes. Desenvolver subcontextos dentro do contexto da idéia principal, floreios, punhetação pseudo-psicológica, papo de bêbado.

Corte brusco.

Maracanã lotado. Dia de sol. Chegada do Papai Noel. Quem não é do Rio e não seja tão velho talvez ignore o que seja "A Chegada do Papai Noel". No meu tempo (anos 80, argh), havia esse ritual natalino no Rio de Janeiro. Papai Noel chegava no meio de um palco montado no gramado do Maraca de helicóptero (mas onde estavam as renas e aquele trenó?) e recebia em mãos do prefeito a chave da cidade, meio que oficializando o Natal. Não era pouca merda, não. Além de já termos enfiado nessa história a administração do Município, um helicóptero e o Maraca, o evento tinha transmissão ao vivo da Globo e apresentações musicais e dos artistas platinados - leiam Xuxa.

Como dá pra se inferir pelo início do parágrafo anterior, eu presenciei in loco uma dessas chegadas. Lembro vagamente da Xuxa saltitante no meio do palco, de uma multidão aguardando o velho descer de helicóptero saído diretamente do Pólo Norte para o calor tropical sem escalas (morte súbita na certa). Um calor de rachar. Meu avô me levou no progamaço indígena, minha vó deve ter ido junto e meu irmão caçula foi com certeza. Não sei se alguma das minhas primas entraram nessa roubada, mas é provável que a mais velha estivesse na fotografia. Todos na arquibancada, chegamos cedo pra pegar um lugar coberto e protegido do sol - porque o lugar lotava de pirralhos e seus infelizes pais.

Eis que em dado momento da farofada sinto aquela vontade irresistível de mijar. Tudo que ocorria no palco começa a ficar nublado, porque fiquei ali me apertando e mudo, um autêntico monge. Não lembro direito o porquê da minha mudez, mas eu acho que fiquei com medo de me levantar e perdermos o nosso lugar. Foi um aperto brutal, nem lembro direito das coisas que aconteciam no palco, mas lembro até hoje do sacrifício que foi me segurar até não dar mais.

Porque, era óbvio, uma hora não iria dar mais. Com o calor, tomei litros de sacolés e refrigerantes e água. Aquele líquido todo precisava sair para eu poder continuar tendo meu sangue limpo. E então, morto de vergonha, sob as vistas dos avós, do caçula e talvez da prima, ignorei as cem mil pessoas no Maracanã, a Maria Meneghel, o Renato Aragão, a minha dignidade e ali mesmo, sentado na arquibancada, soltei toda minha apreensão. Lembro até hoje do calor e do cheiro.

Depois disso o velho chegou, de vermelho e de helicóptero. E eu pedi mais um sacolé.

Recapitulando.

As palavras sempre difíceis. Desde pequeno vem o meu medo delas. Se eu as respeitasse menos e as usasse mais, decerto seria um homem menos complicado. E aposto que treparia mais.

sábado, fevereiro 04, 2006

Munique

Deus é fiel. Resta saber a quem.

Tenho lá meus quase 28 anos de vida. Até o meu pré-vestibular eu ainda acreditava em grandes causas, coisas como socialismo, comunismo, anarquismo, solidariedade, revolução, etc. Eu era de esquerda, achava todos os direitistas um fdps desalmados para os quais o empalamento seria sessão da tarde.

Eu era um idiota, eu sei.

Felizmente a gente cresce e, nesse crescimento, vai começando a enxergar as coisas, the real thing, das realpolitik, de perto. Felizmente, entendam, é um modo de dizer. Não sou mais feliz do que era há anos atrás. A gente vai embrutecendo e perdendo o encanto, virando concreto, encolhendo. A gente, entendam, também é um modo de dizer. Falo de mim. Não sei falar de mais ninguém.

Quando entrei na faculdade, e isso já tem uns bons sete anos passados, não acreditava mais em muita coisa. Votei no Lula com alguma relutância porque já desconfiava que o petismo era algo meio estúpido, tipo acreditar em algo porque não há nada melhor pra pôr no lugar. Desnecessário dizer que votei no Lula e anulei o restante dos votos. Não acreditava e agora consigo acreditar ainda menos no sistema político e partidário do Brasil. Criancinhas na África, no Iraque, na Seca? Truque publicitário. Fiquei áspero assim. Claro que há pessoas fodidas e, especialmente, mal-pagas por todo o lugar mas não são elas que me levam a me comprometer com quem quer que seja que se utilize das imagens delas sob uma certa luz ou uma certa música.

Não tenho muita tendência a acreditar nos outros. Me conheço o suficiente pra saber como alguém pode inventar qualquer história para se justificar perante o mundo, ou simplesmente conseguir uma foda antes de dormir. Por que os outros seriam diferentes? Ou ninguém nunca disse à própria mãe uma cascata qualquer por uma noite de sexo, drogas, roquenrou ou RPG? No final, só devemos contas a nós mesmos perante o que somos ou o que fazemos. Faze o que queres, há de ser tudo da lei.

O que sobrou no mundo foram as pessoas que me interessam. Meus pais, minha família, meus amigos, minhas mulheres. O que importa é quem você ama, quem você amou e quem você pode amar. O que me importa. Ainda assim, você também irá mentir e ser calhorda com algumas dessas pessoas - porque, sei lá, somos todos idiotas em última análise. Essas pessoas são aquelas de quem você espera não o perdão, mas que elas saibam que você não as deixou de amá-las por ser idiota, apenas foi idiota. Perdoar ou não a merda que se faça com alguém não é da sua conta, a não ser que o outro queira que seja.

Munique, de Spielberg, não é um filme sobre judaísmo, ou terrorismo. Seria uma redução ridícula e desnecessária. O que árabes e judeus, ou melhor dizendo dizendo, árabes e ocidentais fazem (homens-bomba, aviões-bomba, cartas-bomba) mundo afora nossa boa e velha polícia faz em cada beco, em cada rua sem asfalto e luz e água, com os pobres e pretos. E vice-versa. Status quo. Munique é uma pergunta. O que, afinal, somos? Do que se trata nossa civilização? Que diabos é a nossa racionalidade?

Nenhum dos lados está certo, não há razão no morticínio. Mas este mesmo morticínio é engenhado com precisão milimétrica - as pessoas precisam de um motivo para matar. Quem move a engenharia, o cálculo, os tiros precisos, as gramas de TNT, é a crença de que o inimigo precisa ser punido. "Quem é o inimigo e quem é você?", pergunta a canção da Legião.

Avner, o agente recrutado pela polícia secreta judaica para vingar os 11 atletas israelenses trucidados em plenos Jogos Olímpicos de Munique em 72 pelo Setembro Negro, organização terrorista palestina, hesita o tempo todo. Ele quer matar, mas não quer ser um assassino. Não pode matar inocentes. Trata-se de um jogo e Avner quer seguir as regras. Spielberg deixa claro que as ações de Avner (e de Israel) são todas seguidas de uma reação. Não há mocinhos, só há bandidos. A culpa acaba por consumir Avner, o homem vai deixando de ser humano, o sono é vigiado, a culpa toma o lugar da sombra. Ao defender sua terra, ele se exila com a família no exterior porque não há segurança na terra defendida. Ao combater um inimigo apátrida, terra alguma é exílio. Não há final feliz porque, convenhamos, basta ligarmos no noticiário para sabermos que não há final.

Deus é fiel. Resta a nós, idiotas, saber a quem.