segunda-feira, abril 16, 2007

A menina dança

Enquanto a cerveja morna apaga minhas cinzas, a menina dança. Sem compromisso com o mundo, com qualquer mundo que não seja aquele seu, com o som e o colorido e seus pés e sua cintura e um coração que pulsa e não tem muita vontade de parar.

A menina dança em torno de mim e sobre todas as coisas, sobre as luzes estroboscópicas e o gelo seco, sobre falsas louras, sobre o tempo que não volta mais e nunca deixa de se ir. A menina só precisa dançar, diz a música, meus olhos tentam não acreditar que algo possa ser tão simples quanto a dança da menina, que era pura verdade em suingue diante de meu nariz.

Vejo a menina rebolar, os balagandãs em chocalho, os olhos em reviro, tambores em abcesso. Quem sou eu pra não dançar com ela? Quem sou eu pra não fechar os olhos e deixar meu corpo se libertar de mim? Quem sou eu pelas ruas já manhãs querendo meus derradeiros passos? Eu não ofereço resistência, quem resiste é o mundo, é a noite que sempre amanhece, é a música que sempre acaba, é a chama que se perde no horizonte.

Eu sou esse olhar na noite vazia. E nela, a menina dança.

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