Sobre o inverno em Porto Alegre
O inverno em Porto Alegre não é uma estação qualquer. Não são apenas dias que amanhecem frios, desenganam ali depois do almoço e puxam cobertores e tocas e meias ao anoitecer. É algo que vive dentro de cada morador dessa cidade, para o bem e para o mal.
Eu me apaixonei por Porto Alegre graças a ele, o inverno. Eu nunca havia me apaixonado por cidade alguma antes em minha vida. Nem pelo Rio, de quem guardo saudades e maiores do céu azul sobre o Paço num fim de tarde singular ou de um domingo pela Tijuca vazia dentro de um ônibus. Mas Porto Alegre no inverno é como uma daquelas mulheres de quem você não consegue tirar os olhos.
Porto Alegre não é perfeita. Pode ser muito quente. Pode ser um assaltante furtivo em sua casa enquanto você ri em uma sessão de cinema. Pode ser um maltrapilho te abordando nas ruas por cigarros, por dinheiro, por qualquer coisa que custe muito pouco e você ainda não dê. Pode ser um vizinho berrando porque o Grêmio foi capaz de vencer um jogo de futebol numa terça de noite.
Mas então a cidade se resfria, e subitamente, você a sente quase fisicamente te dar as mãos para caminhar pela Redenção rumo ao Moinhos de Vento e no meio do caminho tem um café. Não são as moças de cachecol, todos coloridos, de laços e nós que você queria saber executar. Elas são parte de um todo, de uma cidade que desperta. Um despertar em silêncio, um despertar grave. Eu me apaixonei em caminhar pela cidade, as mãos nos bolsos do casaco, o vento frio procurando brechas em meu agasalho. E a cidade absolutamente fascinante.
Há uma cor no azul do céu de Porto Alegre que não há em qualquer azul que eu tenha visto. Uma cidade que anoitece estrelada. Uma cidade que parece eterna em cada hora. Você caminha e há mais vida em seus habitantes, o chimarrão a punhos e os sorrisos em cada esquina.
Eu não nasci em Porto Alegre. Eu não sei se vou morrer em Porto Alegre. Eu não sei o que Porto Alegre guarda pra mim em seus invernos. Mas a cada manhã, eu não resisto em ficar um pouco mais para desvelar, um a um, seus segredos.
E deixo aqui minha declaração feita a janelas abertas. Para a cidade ver.
segunda-feira, maio 21, 2007
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5 comentários:
Também amo.
ah, o sul... eu era bem novinha, mas ainda lembro da minha mae me vestindo de prenda e pilchando os meus irmaos, hehehe. acho que ate dancei na "Coxilha Nativista de Cruz Alta".
e o inverno era o maior barato (mais pros meus pais do que pra gente). nego enchendo a cara de vinho e chimarrao, a lareira da minha casa e a estufa que a minha mae colocava no banheiro pra gente tomar banho (mesmo com temperaturas em torno de -2 graus, ninguem se importava em construir casas com aquecimento). bons tempos!
beijoca
Porto Alegre é sim a mulher singular... eu amo cada inverno que chega.
adorei o texto... ainda mais vindo de um "estrangeiro". ;)
memorável!
lindo o texto. sinto exatamente isso.
sou de sao paulo, moro em sao paulo, mas porto alegre.. ahh nao tem como explicar, só sei que tem um sentimento, e que ele é forte.
faço questao de ir sempre pra lá, nem que seja só pra caminhar pela redenção ou assistir um jogo no beira-rio.
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