domingo, janeiro 22, 2006

Otimismo que se bebe


Pode me chamar de babaca se quiser. Você não estará errado, só que também ser babaca não anula meu ponto de vista.

A idéia de nascer e morrer num mesmo lugar me deprime. Seriamente. Cenários repetidos, lugares repetidos, pessoas repetidas. Não consigo aceitar. Há muita coisa a ser vista para ficarmos presos a qualquer lugar. Talvez a idéia se passe em minha cabeça porque já fixei residência em três estados diferentes da federação e me encaminho para me mudar para o quarto da série. Será o último? Irei me sossegar de vez em Porto Alegre, criar raízes? Dúvidas e delírios.

PoA tem algo que tive na vida quando menino em Mandaguari, Paraná - frio, muito frio, durante o inverno. No Rio de Janeiro de minha adolescência os invernos ficaram mais amenos, mas a cidade obviamente compensava a falta de frio alguns meses no ano. PoA tem um jeitão roquenrou, um clima na noite de guitarras distorcidas e amigos meus roqueiros por lá, do tipo que ficam bebendo por horas e ouvindo Black Sabbath. Sim, eu sou do tipo que fico bebendo por horas ouvindo Black Sabbath. Reza a lenda que PoA tem as meninas mais guapas deste país. Depois de morar um ano em Belém, dias frios fazem parte dos meus sonhos, assim como colegiais sedentas por sexo que vestem baby-doll.

O lado bom de morar em lugares novos é passar por desconhecido caso você queira. Um estranho no ninho. Me ajuda a escrever aqui em Belém ser íntimo de poucos. Quase ninguém me liga, me convida para festas, etc. Tenho as noites e finais de semanas meus, posso simplesmente ficar em casa lendo ou escrevendo, em meio às músicas que eu preferir ouvir. Não deverá ser assim em PoA, mas lá não precisa ser assim. Muita solidão também pode te deixar meio doentio, meio enferujado para relacionamentos, meio egoísta. Agora mesmo teclo essas palavras vazias em meio ao meu silêncio. A cidade também está calada lá fora. Ouço meus amigos de futebol e suas risadas lá embaixo.

Noite calada e sóbria. Talvez me faça rabiscar um poema, há tempos que não arrisco versos. Há o tempo da poesia e o tempo da prosa, para mim sempre funcionou assim. Há palavras que pedem versos. O meu problema com Belém não é apenas o clima, mas, especialmente, a distância. Estou muito longe de tudo o que aprendi a gostar nessa cidade. Ajuda a escrever mas quando não escrevo, a vida me urge. Já tive sexo o suficiente para saber que melhor que o sexo é o sentimento, mas para sentimento precisa haver convívio. Sexo, cigarros e álcool. Essa cidade não me negou nenhum dos três, essa cidade me fez escrever mais e melhor. O porém é estar longe de qualquer amigo que eu tenha feito nesses últimos anos, no Rio ou em São Paulo ou em qualquer outro lugar ao sul. Daí uma certa angústia que me assalta de me perceber aqui, num lugar onde não quero morrer e não quero arrumar compromissos a longo prazo. Estou aqui de passagem. E não sei quanto tempo esse rito vai durar. Mas não consigo pertencer a este chão, a este céu, a esta chuva.

Talvez eu não seja de lugar nenhum.

2 comentários:

Anônimo disse...

Talvez vc seja de todos eles...

Fonseca disse...

Entonces, vem pra cá duma vez. Vamos beber por horas e ouvir Black Sabbath.