domingo, abril 13, 2008

Mallu

"Because something is happening here/But you don't know what it is/Do you, Mister Jones?"

Há algo errado quando uma guria paulista de 15 anos lota uma casa em Porto Alegre para apresentar suas músicas e a grande revista de música em circulação no país - que já tratou de entrevistar essa mesma menina na sua última edição - apresenta na capa uma ex-modelo e atual global grávida. Tudo bem que Fernanda Lima sem roupa venda revistas, mas será que não seria o caso de dar mais valor a algo chamado conteúdo editorial?

Eu sei que a moçoila de nome Mallu Magalhães lotou o pequeno espaço chamado "Porão do Beco" porque eu estava lá. Dava para perceber que aquela lotação da casa e a atenção que o público prestava a uma menina não eram coisas ordinárias, era algo digno de nota - havia fotógrafos profissionais, câmeras de tv, gritinhos do público, aquela tensão no ambiente típica de um acontecimento notável.

Pois bem, Mallu, 15 anos, chegou em uma van vestida de terninho à la Dylan e imediatamente se dirigiu ao palco local. Uma vez no palco, a cena era toda dela. O que impressiona de fato, mais do que as músicas, é a sua execução - porque entre uma música e outra e alvo da atenção de mais ou menos 200 pessoas mais velhas que ela, Mallu volta a ser uma menina normal com seus 15 aninhos e a fala tímida e risadas infantis. Durante as músicas, compreende-se na íntegra porque a mocinha virou o fenômeno musical da internet da vez.

Mallu domina o violão e toca melhor ainda um teclado. Ela ainda apresenta-se diante diante de um banjo que descobri que ela tratou de reparar (o instrumento era do pai de uma amiga que iria jogá-lo fora) e também, acompanhada de um tecladista, aquele tecladinho de assoprar cujo nome técnico eu ignoro completamente. E, sim, há a gaita. Suas músicas, batizadas como folk, puxam pro country-rock quando mais animadinhas e Mallu consegue fazer sua vozinha de adolescente soar quase como uma cantora legítima de blues em algumas passagens.

A minha preferida da moça é a deliciosa "Don't You Look Back" que ela toca no banjo mas no show ela apresentou uma beleza de versão para "Folson Prision Blues" (sim, negadinha, The Man In Black). Seu hit "Tchubaruba" tem realmente um quê de Jack Johnson mas não é por essa praia que Mallu caminha. O que fascina, como eu digo, é como ela se porta enquanto canta e toca. Os melhores momentos de Mallu no palco contém vivacidade e simpatia únicas, com aquela malandragem que só conseguimos enquanto jovens (a mim lembrou a interação do jovem Dylan com a platéia em dias felizes do Newport Jazz Festival).

Ao final, com uma platéia que não queria que ela fosse embora do palco, Mallu deu uma canjinha básica com a música fofinha de 2008 "Anyone Else But You", do filme Juno. Nem pareceu que ela estava escaladíssima para ser uma das atrações da próxima Virada Cultural da cidade de São Paulo, mas apenas que era uma menina diante de um enorme brinquedo: nós todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muitíssimo obrigado por linkar o meu blog no seu.

Assinado: Sebastien Salé

Pod papo - Pod música disse...

Gostei mesmo de suas palavras, na verdade é uma crítica tambem...Parabéns! Continue assim!!!